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#3 — 11.25

Novembro de 2025

7 Perguntas para Suzana Maria

Suzana Maria (aka @shoshmaria nas redes sociais) é amiga da Carlos Penna e primeira convidada especialíssima para inaugurar a Galeria CP — novo espaço na nossa loja no Centro de São Paulo para encontros e experimentações de novos artistas. Ainda mais especial, pois “Entre presas” é sua primeira exposição formal, colocando para o mundo uma série de pinturas íntimas e vigorosas, produzidas nos últimos meses.

Como surgiu essa faceta artista na sua vida?

Eu cresci em um contexto de artistas na família inteira e desenho desde criança. Sempre tive essa relação com a pintura. Especialmente desde 2025, me jogava e voltava atrás, indo e voltando. Há poucos anos, resolvi entrar com força e me dedicar de verdade.

As obras que estão em “Entre Presas” são recentes, então?

Existem algumas mais antigas, de 2023 e 2024. Mas a grande maioria, cerca de 20 telas, fiz nos últimos dois meses. O gatilho foi o convite do Carlos, que ficou obcecado por um quadro meu e, quando nos conhecemos, sugeriu de fazermos essa exposição. Eu nunca tinha feito uma individual, então fiquei com o pé atrás e fugi do assunto durante meses. Daí em agosto ele me deu um ultimato, já com a data de abertura.

E como foi esse processo?

Depois que decidimos, cheguei em casa e fiquei pensando o que gostaria de fazer. Em vez de buscar um tema, decidi deixar a pintura me falar qual seria esse tema. Então parti desses exercícios de natureza morta, que é um gênero clássico. Dentro dele, há a classificação de pintura de caça, os animais caçados e colocados no centro da mesa. Ali, cada elemento é simbólico. A pintura de caça fala sobre a tentativa de controle do ser humano sobre a natureza. No entanto, é apenas uma tentativa — pois mesmo matando o animal, o ser humano não tem controle sobre o que acontece depois da morte.

Você sentia que estava construindo essa poética enquanto pintava?

Não sabia que estava chegando nessa história, que é sobre a minha tentativa de controle da pintura. Tentava dominar quando, na verdade, ela é que vinha de volta. Fui pintando e percebi que estava construindo uma dança, uma luta, entre mim e a pintura.

É uma exposição sobre o ato de pintar, então?

Sim! Em algum momento, entendi que era sobre esse jogo entre quem pinta e o ato de pintar. É interessante que a minha primeira solo fale sobre o começo de tudo, essa busca e essa quase artificialidade de tentar encontrar minha voz — enquanto a pintura fala: “não adianta você tentar forçar nada”. Um amigo, que também pinta, uma vez me disse que pintar é sobre deixar a tinta falar, deixar os erros falarem e abraçar esses erros. No final das contas, a primeira tela que pintei, no dia seguinte à conversa com Carlos, e a última, contam a mesma história. Precisei de dois meses pintando de forma quase obsessiva para entender que estava falando sempre sobre o mesmo assunto.

A figura de São Sebastião, que você revê em algumas obras, entra nessa temática?

É um cânone para mim, aparece na minha vida de várias formas. É um santo que ascende aos céus a partir do martírio. Uso isso como uma metáfora para meu processo de pintar, de questionar “por que é tão difícil fazer, por que estou sofrendo tanto?”.

E essa obsessão com vermelho?

Além de ser uma cor linda, simboliza a vida. Tem uma dualidade e uma contradição, fala-se ao mesmo tempo de vida e de morte, do sangue derramado. A morte faz parte do processo da vida. É a cor do sangue, da intensidade, do perigo. E também da luta do povo, historicamente, quando se une para lutar por si e pela existência. Além do Brasil, que é literalmente vermelho por conta do pau-brasil. E eu fico linda de vermelho, o que também ajuda bastante.

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